quarta-feira, setembro 04, 2019

HISTÓRIA DE ARARIPINA: A Igrejinha demolida - a grande nódoa da administração de Dosa



As eleições de 15 de novembro de 1968, que marcava um período pós-revolucionário e dividia as expectativas entre a Aliança Renovadora Nacional – ARENA e o Movimento Democrático Brasileiro – MDB, o primeiro aliado do governo e o outro, oposição. Os dois partidos eram produtos do sistema vigente, com a intenção de manter a aparência democrática. Ninguém naquela época queria fazer oposição aos coronéis que mandavam e desmandavam no país e as decisões que eram tomadas, inclusive nos rincões dos sertões distantes, eram decisões político-militares. Como a ARENA era fiel ao sistema e ao momento turbulento que o país atravessava, o partido praticamente concorreu sozinho as eleições, elegendo para prefeito Raimundo Batista de Lima, Dosa, Luiz Barreto Alencar, para vice-prefeito e nove vereadores da base aliada.




Dosa deu continuidade ao trabalho de Sebasto e aproveitou a fase do “Milagre Brasileiro” para garantir autonomia a sua administração, avançando em áreas de serviços de abastecimento de água; serviços sociais para qualificação profissional dos munícipes, minirreforma agrária, porém, a administração de Dosa, deixou uma nódoa grandiosa, que até hoje, principalmente a comunidade católica não consegue apagar da lembrança: em 1971 demoliu a Igrejinha de São Vicente de Paula, construída e inaugurada em 08 de dezembro de 1871, pelo Padre José Antônio Maria Pereira Ibiapina. O templo católico ficava ali, onde hoje estão instaladas o Armazém Paraíba, a Caixa Econômica Federal e outros pontos comerciais.



Praça Frei Ibiapina. Fotos : Everaldo



Local onde ficava a igrejinha



Desfile 7 de setembro de 1966. Foto cedida por professora Maria de Lourdes
Seta indicando parcialmente a Igrejinha demolida

O autor do Livro – Araripina, Histórias, Fatos & Reminiscências, Francisco Muniz Arraes, demonstra a sua tristeza e melancolia em forma de verso, do ato que para ele, foi criminoso.
Ah! Igrejinha! Que saudade! Igreja sem campanário, Sem adornos de beleza. Toda ela singeleza, Com Jesus no seu sacrário. Só chegou ao centenário! Esquecendo seu passado. As mãos frias de um malvado Derrubaram a Igrejinha E tudo que tinha nela Com tanto gosto criado.

Foi um crime praticado em nome do progresso...

Sei que não terá perdão / Para crime tão infame, / Nem que todo céu conclame / Em favor desse vilão, / Que chamou a maldição / Do Santo Padre Luiz / Que erguida sempre a quis / E do Padre Ibiapina / Que ornou Araripina / Com a pequena matriz
Nem que ali se faça substituirá a grandeza daquele templo, simples, modesto, pelo que representava de tradição e história.

Ali muitos se casaram. / Fizeram jura solene / De afeto e amor perene, / Diante de Deus rezaram / E jamais imaginaram, / Que ideia tão mesquinha / De fazer uma pracinha, / Olvidando a tradição Ferindo a religião / Destruísse a Igrejinha
A languidez dos cantos sacros, ecoando suave pelas encostas da serra, saindo da Igrejinha, que...

Nunca mais ouvirá o canto / Do fiel, do pertinente. / O seu sino foi silente. / As imagens dos seus santos / Saíram chorando em prantos, / Daquele lugar sagrado / Que não mais é procurado / Para nele se rezar, / Ou as faltas de confessar,  / Ser benzido ou perdoado

Para nós, crianças daquelas época, ficaram marcas indeléveis da religiosidade que nos era transmitida com

A lição do Catecismo / Que nos dava a gente pia(Todas, Filhas de Maria) / Era puro cristianismo, / Começado com o batismo. / Para todas as crianças, / Era um mundo de esperanças! / Daquele templo sagrado, / Testemunha do passado, / Só nos restam as lembranças!

A nova geração não compreende essas coisas. Vive uma Araripina de largas avenidas, das praças, dos colégios, da faculdade, dos clubes, das boates, da televisão, dos carros, das butiques, dos desfiles de modas, dos concursos de misses, do telefone, das fábricas, do asfalto, da rodoviária, do aeroporto, das piscinas, das granjas, das casas de campos, dos cinemas, do uísque, dos confortos e das comodidades do moderno e do avançado. É por isso que a Igrejinha para ela não faz sentido. E nos chama de “quadrados”, quando, em lamentações sentimentais, reclamamos que:

Foi mudado o seu destino:
Aos invés da Igrejinha
Hoje, ali, é uma pracinha,
Cometeram o desatino
Calando seu rouco sino
O lugar santo e sagrado
Transformaram e é usado,
Não mais para devoções
Penitências e orações.
Mas só pra fazer pecado


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Blog do Paixão

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